A contagem de carboidratos é uma importante estratégia para os portadores de diabetes mellitus, especialmente nos casos de dependentes de insulina. Afinal, eles precisam equilibrar as doses do hormônio com a quantidade de carboidratos ingeridos durante as refeições. Um erro nessa proporção pode causar problemas de controle da doença ou, mesmo, complicações graves, como a hipoglicemia.
Ademais, a correta mensuração dos carboidratos também pode se tornar uma estratégia de dieta pela adequação da ingesta com as necessidades diárias do indivíduo, o que evita os excessos comuns no dia a dia. Isso resulta em um melhor controle de diabetes mellitus do tipo 2 não dependentes de insulina, pois a perda de tecido adiposo reduz a resistência do corpo ao hormônio.
Quer entender melhor? Confira o nosso post!
Qual a importância da contagem de carboidratos?
O consumo de determinados alimentos pode gerar picos de açúcar no sangue, a glicemia. Para evitar esse problema, alguns diabéticos dependem da insulina. Entretanto, se o hormônio for utilizado na dose desproporcional com a glicemia, pode causar a hipoglicemia grave — que pode levar ao coma ou à morte.
Para estabilizar os níveis de glicemia, foi proposto o tratamento de contagem de carboidratos. Vamos comentar a seguir os resultados de alguns estudos importantes.
Controle da glicemia em longo prazo
Diversos especialistas em diabetes do Brasil analisaram as estatísticas de várias pesquisas sobre a contagem de carboidratos. No artigo, eles obtiveram dados interessantes.
Nos cinco artigos analisados, o resultado foi promissor. Neles, analisou-se a hemoglobina glicada final — aquele exame que mede a glicemia dos últimos 90 dias:
A HbA1c final foi significativamente menor no grupo CHOC do que no grupo controle (diferença média, aleatória, IC de 95%: −0,49 (-0,85, −0,13), p = 0,006).
No entanto, em relação a outros parâmetros (redução da hipoglicemia grave e aumento da qualidade de vida), os benefícios ainda não foram muito conclusivos. No entanto, os endocrinologistas ainda percebem os benefícios na prática. Como poucos estudos foram analisados, eles chegaram à seguinte conclusão:
Considerando os estudos incluídos na presente revisão sistemática, a metanálise mostrou evidências que favorecem o uso de CHOC no manejo de pacientes adultos com DM1. No entanto, esse benefício foi limitado à HbA1c final, que foi significativamente menor no grupo CHOC do que no grupo controle. Portanto, novos ensaios clínicos randomizados com maior validação interna e externa e resultados de longo prazo são necessários para analisar se existe ou não uma diferença significativa entre essas duas ferramentas de orientação nutricional em termos de outros resultados importantes relacionados ao diabetes, como mortalidade, qualidade de vida e redução da hipoglicemia grave.
Boa adesão ao tratamento
Já este estudo mostrou números interessantes sobre outra perspectiva: a adesão dos pacientes à medida:
Todos os participantes obtiveram 100% de sucesso em todas as etapas do programa e iniciaram a contagem de carboidratos nas refeições principais. O estado nutricional e as doses diárias totais de insulina antes e depois do estudo não diferiram. Após 12 meses, 68% dos adolescentes contaram carboidratos o tempo todo, 16% o fizeram em lanches extras e 16% foram suspensos da nova terapia. Oitenta por cento dos pais ficaram satisfeitos com o programa, acreditando que os adolescentes foram treinados na nova terapia.
Especialmente em crianças e adolescentes, a adesão aos tratamentos da diabetes pode ser muito difícil. Desse modo, a contagem parece ser benéfica por incentivar uma alimentação mais saudável e fomentar o autocuidado. Indiretamente, isso reduz o ganho de peso e o consumo de alimentos processados.
Como funciona a contagem dos carboidratos na prática?
Apesar de simples, a contagem de carboidratos exige o domínio de alguns conceitos técnicos.
Entenda como funciona o metabolismo dos carboidratos
O primeiro passo é compreender que nem todo o carboidrato é igual. Há diversos tipos na natureza e isso impacta a absorção. Além disso, o homem refinou e modificou esse nutriente para adicionar nas comidas industrializadas.
Na natureza, há várias moléculas de carboidratos simples, isto é, elas estão isoladas e já podem ser utilizadas diretamente pelo corpo para produzir energia. Elas são:
- a glicose — ela é encontrada em algumas plantas e no mel;
- a frutose — é o açúcar da maioria das frutas;
- a galactose — não é encontrada isolada, mas é liberada após o corpo metabolizar o leite.
A maioria das moléculas de carboidrato se junta a outras. Por exemplo, a sacarose é a união de uma glicose com uma frutose. É encontrada no açúcar de cana. A lactose do leite é formada por uma galactose e uma glicose. Pela estrutura simples, rapidamente são metabolizadas e liberam glicose no organismo depois da ingestão.
Os açúcares são um grupo de nutrientes formados por esses carboidratos mais simples. Eles podem ser naturais, como os das frutas, do mel e do leite. No entanto, o grande perigo está quando são adicionados aos alimentos industrializados, como o xarope açucarado em refrigerantes, iogurtes e outras bebidas adocicadas.
Já os amidos são carboidratos complexos com dezenas de moléculas de glicose ou frutose na mesma cadeia. Então, para liberar os açúcares, o corpo precisa quebrar esses nutrientes por meio da digestão. Com isso, não há um pico tão rápido de glicemia.
É muito importante saber disso, pois frequentemente associamos o açúcar aos alimentos doces. No entanto, muitos pratos salgados são ricos em carboidratos.
Por fim, não podemos deixar de falar das fibras, que são carboidratos com uma função positiva no controle da diabetes mellitus. Elas não são metabolizadas pelo corpo, então não ajudam a aumentar a glicemia. Pelo contrário, ajudam a reduzir a velocidade do metabolismo fazendo com que o açúcar seja liberado de forma mais controlada.
Elas podem ser encontradas em frutas (principalmente frutas com casca comestível, como maçãs), vegetais, nozes, leguminosas e grãos inteiros.
Leia os rótulos e planeje as refeições
Por lei, os carboidratos devem estar listados no rótulo de alimentos industrializados. No caso dos alimentos naturais, uma boa estratégia é procurar as informações nutricionais na internet. Lá, confira tanto o “carboidrato total” quanto suas subdivisões em amidos, açúcares e fibras.
Então, diante do que explicamos acima, siga algumas regras:
- evite, ao máximo, os alimentos industrializados ricos em açúcares, pois eles causam um descontrole maior da glicemia. Se estiver com vontade de um alimento doce, prefira as frutas;
- não deixe de contar os carboidratos de alimentos aparentemente “inocentes”, como o leite e as comidas salgadas;
- faça a ingestão de, pelo menos, 25 gramas de fibras todos os dias. Elas não devem ser contadas como fonte de energia na contagem de carboidratos, pois não são absorvidas pelo organismo.
Siga as recomendações do seu médico
Como cada esquema de tratamento de controle da glicemia funciona de uma forma, não é possível falarmos de como deve ser cada refeição. Isso vai depender das orientações do médico, em que ele dirá como ajustar a insulina aos carboidratos da refeição.
Apesar de ser uma estratégia promissora de controle da diabetes, a contagem de carboidratos deve vir acompanhada de outras medidas. Por exemplo, a dosagem da glicemia periodicamente é imprescindível para que o médico entenda como ajustar as doses de insulina no sangue.
Quer saber mais sobre o tratamento da diabetes e das complicações do controle inadequado? Então, saiba tudo sobre a hipoglicemia neste nosso post!