Escrito por Fred Prado do @vidadediabetico
A vida é repleta de altos e baixos. E com diabetes, mais ainda. Do diagnóstico ao momento agora, você já deve ter passado por muitas experiências, positivas e negativas, e só você sabe as marcas que ficaram neste seu caminho chamado lenda pessoal. Em verdade nunca encontrei uma pessoa forte com um passado fácil. É próprio dos fortes ter casca e sabedoria, que só se adquire com o tempo e vivendo os mais diversos tipos de experiências, e aprendendo com elas.
Desde cedo entendi que a dor nos constrói ou nos destrói, nos liberta ou nos asfixia, nos encoraja ou nos inibe. Com o passar do tempo a dor nos equilibra e nos amadurece. Será mesmo? Se não aprendermos a reciclar nossas emoções, a dor nos bloqueia e enclausura. Devemos fugir disso.
Não devemos nos submeter ao cárcere da dor, mas utilizar o caos como a mais excelente oportunidade para pensar em outras possibilidades, e nos reconstruirmos, quantas vezes forem necessárias. O sofrimento, portanto, é um grande mestre, uma amarga e, ao mesmo tempo, doce ferramenta para penetrar em camadas mais profundas de uma pessoa tão conhecida superficialmente e tão desconhecida intimamente: nós mesmos.
Sob os alicerces da arte de fazer perguntas, a autoconsciência me levou a fazer uma reflexão sobre minhas mazelas, conduzindo-me à descoberta de vários de meus fantasmas mentais: autopunição, desânimo, sofrimento por antecipação, medo do futuro, contração do sentido existencial, convicções fúteis. Esse autoconhecimento foi espetacular, um recomeço existencial. Perdi o medo de ser um ser humano imperfeito e de me colocar em estado contínuo de construção. Por isso, sempre que possível, exponho algumas entranhas de minha história em meus livros e postagens. E você, já perdeu esse medo?
Escrevo e reescrevo pelo menos cinco vezes cada texto. Tento traduzir conhecimentos complexos em uma linguagem acessível, democrática, metafórica, leve e bem-humorada. Essas atitudes incentivaram meu Eu a deixar de ser frágil, inseguro, a fazer escolhas e assumir as perdas inerentes a elas. Enfim, a abandonar o trivial para alcançar o essencial.
Adoro escrever de noite e de madrugada. Nesses horários, tenho mais foco, disciplina e criatividade. Me sinto sozinho, exceto pelo copo de café, que é sempre companheiro. Muitos têm pavor da solidão, porém não há criatividade sem que haja intimidade com ela.
Penso que hoje existem muitas pessoas mentalmente estéreis, não porque são incapazes de construir conhecimento – notadamente autoconhecimento – mas porque são incapazes de ficar a sós, de mergulhar dentro de si e encontrar seus fantasmas mentais. Quero com isso dizer que uma das maiores sabedorias, ao meu modo de ver, é dedicar tempo a se conhecer, a saber suas felicidades e seus medos, a descobrir o que te move e quais os seus propósitos. Saber isso lhe dará força para seguir sempre em frente, porque é nessa direção que a vida caminha.