A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1 a cada 11 pessoas no mundo é diabética. Quem recebe o diagnóstico de diabetes precisa estar atento às diversas complicações que podem surgir em decorrência dessa condição, como doença cardíaca, lesões renais ou neurológicas, problemas nos pés, danos oculares e cetoacidose diabética.
Todas as complicações agudas da hiperglicemia representam consequências graves para o paciente diabético. A cetoacidose, porém, quando não tratada corretamente, pode levar à morte. A melhor forma de prevenir essa ocorrência é saber quais são suas causas e sintomas e, ainda, como ela pode ser tratada.
Para conhecer mais sobre essa complicação e saber como agir caso ela apareça, acompanhe este guia que preparamos com as principais informações sobre o assunto. Boa leitura!
O que é diabetes?
Diabetes é o nome popularmente usado para se referir a Diabetes Mellitus. Trata-se de uma condição médica na qual há elevação de glicose no sangue, sendo resultado de uma produção insuficiente ou falha na absorção da insulina. Pode-se apresentar de diversas formas e tipos, tais como:
Tipo 1 — de causa desconhecida, aparece geralmente na infância ou adolescência e exige o uso diário de insulina ou outros medicamentos para realizar o controle da glicose no sangue;
Tipo 2 — relacionado ao sobrepeso, ao sedentarismo e à hipertensão, ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida;
Gestacional — ocorretemporariamente durante a gravidez e afeta entre 2 e 4% de todas as gestantes;
Pré-diabetes — embora não seja exatamente um tipo de diabetes já instalado, é uma condição que demonstra o início da falha do organismo em manter os níveis equilibrados. Por isso, é importante intervir precocemente para evitar a evolução para diabetes.
Quais são os sintomas e as complicações?
Os principais sintomas do diabetes são:
- fome frequente;
- sede excessiva;
- mudanças bruscas de humor;
- fadiga e desânimo contínuos;
- vontade de urinar várias vezes ao dia;
- perda de peso (sem motivo aparente);
- feridas que demoram a cicatrizar;
- visão embaçada.
Quando não é corretamente tratado, o diabetes pode levar a algumas complicações: no coração, nos olhos (como glaucoma, catarata e retinopatia), nas artérias, nos rins e nos nervos.
Pode causar disfunções sexuais e levar também a amputações, devido ao fluxo reduzido de sangue para os pés, muito comum nessa doença. Em casos mais graves, pode levar o paciente à morte.
O que é cetoacidose diabética?
Trata-se de uma complicação aguda grave que ocorre em pessoas com diabetes e está relacionada à ação da insulina no sangue. Ela pode colocar em risco a vida dos pacientes, sendo a principal causa de morte em crianças com diabetes mellitus tipo 1 (DM1).
Seu nome deriva dos três elementos presentes nessa condição: cetonas, ácidos e glicose. Assim, a cetoacidose caracteriza-se pela presença de hiperglicemia (que é um nível alto de glicose no sangue), cetonas na urina e determinados ácidos na corrente sanguínea. Para entender melhor seu funcionamento, é preciso saber como ela ocorre e quais são suas causas.
Como ela ocorre?
A cetoacidose diabética ocorre quando os níveis de açúcar no sangue encontram-se muito altos. Por isso, é importante entender o papel da insulina no controle da hiperglicemia.
A insulina é um hormônio que tem a função responsável de transformar a glicose (que entra no nosso corpo) em energia. Quando a insulina é insuficiente, o nível de açúcar no sangue aumenta e as células não recebem energia.
Para evitar o colapso, o corpo começa a utilizar os estoques de gordura como energia. Contudo, esse processo atípico ocasiona a formação de cetonas.
As cetonas, ou corpos cetônicos, são substâncias ácidas que alteram o pH do sangue, deixando-o mais baixo que o normal, ou seja, mais ácido. Essa acidez desequilibra todo o funcionamento do organismo. Quando os níveis ficam extremamente altos, temos o diagnóstico de cetoacidose diabética.
Quais são as causas da cetoacidose diabética?
Você já sabe que a cetoacidose é uma condição em que a insulina é insuficiente e o corpo tenta compensar utilizando os estoques de gorduras e, por isso, formam-se as cetonas, certo? Mas o que causa essa condição?
Primeiramente, é preciso ter em mente que essa complicação acontece sempre que ocorre uma falha da ação da insulina. As causas para essa falha são variadas. Contudo, os principais gatilhos para que a cetoacidose se instale são os seguintes:
- missão do emprego das doses de insulina;
- mau funcionamento da bomba de insulina;
- doenças infecciosas agudas, como pneumonias e infecções do trato urinário;
- infarto do miocárdio;
- distúrbios endócrinos;
- uso de álcool ou de drogas;
- desidratação;
- ingestão excessiva bebidas açucaradas;
- estresse;
- trauma físico ou emocional;
- febre alta;
- cirurgia.
Além dessas causas, o principal fator de risco para o paciente apresentar essa condição é se ele já tiver a Diabetes tipo 1, mesmo que não saiba da sua condição. Por isso, a importância de, sempre, realizarmos exames de rotina a fim de sabermos como está a nossa condição de saúde e controlar o aparecimento de possíveis doenças.
Quais são os principais sintomas nessas condições?
Trata-se de uma condição que normalmente se desenvolve lentamente. Por isso, é preciso ficar atento aos sintomas da hiperglicemia, além de outros, que podem incluir:
- sede ou boca muito seca;
- aumento do volume ou frequência urinária;
- confusão mental ou dificuldade de concentração;
- fadiga constante;
- pele seca;
- náuseas, vômitos ou dor abdominal;
- respiração com odor frutado;
- respiração ofegante;
- febre ou temperatura baixa;
- dificuldade de respirar;
- taquicardia;
- sonolência;
- desidratação;
- pressão baixa.
Os sintomas podem surgir em algumas horas, ou se desenvolverem ao longo de vários dias. Além desses sinais físicos, existem indícios clínicos, como a glicose alta no sangue e os altos níveis de cetonas na urina.
Qual a importância do diagnóstico e ação rápida em caso de cetoacidose diabética?
A cetoacidose diabética é uma complicação aguda grave e pode ser mortal. Ela é a principal causa de morte em crianças com diabetes mellitus tipo 1 (DM1). Por isso, é preciso ter atenção a qualquer mudança no organismo e buscar atendimento médico ao constatar o surgimento de sintomas.
Nesse período de pandemia, já foi bastante divulgado por diversas autoridades médicas a relação de risco entrediabetes e coronavírus, pois a COVID-19 pode ser potencialmente fatal para diabéticos. Por isso, uma situação de descompensação das funções do organismo pode agravar ainda mais o quadro. Caso o tratamento não seja iniciado tempestivamente, a cetoacidose pode evoluir para coma, seguido de morte.
Quais os exames mais indicados nesse caso?
O diagnóstico é realizado com a análise do quadro clínico, em associação com exames laboratoriais. Assim, em suspeita de cetoacidose diabética, devem ser realizados os seguintes exames:
- hemograma;
- eletrólitos séricos;
- ureia;
- creatinina,
- glicemia;
- cetonas;
- osmolalidade;
- presença de cetonas na urina;
- glicose na urina;
- hemoglobina glicada;
- análise de potássio no sangue;
- teste de amilase, para avaliar a função pancreática
- raio-X do tórax, para avaliar sinais de pneumonia.
- gasometria arterial, em caso de cetonas positivas;
- medir o pH do sangue.
Além desses, é recomendado que os pacientes adultos sejam submetidos ao ECG para rastrear infarto agudo do miocárdio e como coadjuvante na avaliação das alterações do potássio sérico. Outros métodos diagnósticos podem ser solicitados a critério médico.
Como funciona o tratamento e quais são as práticas mais recomendadas?
Usualmente, o tratamento de cetoacidose diabética é realizado em ambiente hospitalar, devido à gravidade e às condições do paciente. Algumas pessoas podem mesmo necessitar de internação em unidade de terapia intensiva (UTI).
O tratamento consiste medidas diversas, que dependem das alterações encontradas nos exames. Geralmente, envolvem uma combinação de abordagens para normalizar os níveis de açúcar e de insulina no sangue.
A cetoacidose pode ser classificada como leve, moderada ou grave e o tratamento é determinado de acordo com a gravidade apresentada. Caso a complicação seja consequência de alguma outra doença, como infecção, será realizado o tratamento específico para isso também.
Confira, a seguir, os procedimentos mais frequentemente aplicados.
Reposição de fluidos
Ministração de fluidos intravenosos, ou por via oral, para repor os líquidos perdidos com a cetoacidose. A reposição de fluidos também é utilizada para diluir a concentração de açúcar no sangue.
Insulinoterapia
Administração de insulina por meio intravenoso para equilibrar os níveis de açúcar na corrente sanguínea. De forma ideal, a insulina é administrada até que os níveis de açúcar caiam para 240 mg/dL ou menos. Após a normalização, o paciente volta ao uso normal da sua rotina.
Reposição de eletrólitos
Quando os níveis de insulina estão abaixo do normal podem afetar a produção de eletrólitos do organismo. Essas substâncias são minerais que auxiliam no funcionamento dos sistemas nervoso e cardiovascular. Sua reposição é feita preferencialmente por via intravenosa.
Demais práticas
Além dos procedimentos mais comuns para tratamento da cetoacidose, pode haver administração de antibióticos, caso haja uma infecção em curso.
Quais são as complicações mais comuns do tratamento?
Além das complicações que podem surgir pela própria ocorrência dessa complicação, seu tratamento não é totalmente inócuo (embora necessário). Por isso, é tão importante evitar a ocorrência da cetoacidose. Entre as complicações mais frequentes, estão:
hipoglicemia — o tratamento pode levar a uma baixa muito rápida dos níveis de açúcar no sangue;
hipocalemia — os fluidos e a insulina utilizados no tratamento podem levar a um baixo nível de potássio e, por consequência, causar danos ao coração, músculos e nervos que necessitam desse mineral para seu bom funcionamento;
edema cerebral — a regulação muito rápida do nível de açúcar no sangue pode ocasionar um inchaço em seu cérebro, principalmente em crianças.
Como prevenir a ocorrência da cetoacidose diabética?
Embora seja uma complicação aguda que pode surgir em qualquer paciente diabético, existem algumas medidas que podem ser utilizadas para prevenir a ocorrência da cetoacidose. Veja, a seguir, as principais dicas de prevenção.
Mantenha o diabetes sob controle
Controlar a diabetes envolve se alimentar corretamente e praticar atividade física regularmente, mas, além disso, também é importante seguir o tratamento com medicamentos e insulina indicados pelo médico que acompanha o paciente.
Além disso, pode ser necessário ajustar a dose de acordo com o nível de glicose, os alimentos ingeridos, a prática de atividade física, a ocorrência de doenças, entre outros fatores.
Em caso de qualquer alteração, entre em contato com seu médico para realizar os ajustes necessários na sua rotina. O controle do diabetes é um passo fundamental para evitar qualquer complicação.
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Monitore o nível de açúcar e cetoses
Para manter a glicemia sob controle, é preciso monitorar os níveis de açúcar no sangue algumas vezes por dia — três a quatro vezes, ou mais, se estiver doente. Além disso, a verificação das cetoses pode ser utilizada.
Para isso, utilize fitas desenvolvidas para esse fim. A monitorização cuidadosa é a forma mais eficaz de se certificar de que os níveis estão dentro do limite. Na ocorrência de crises, essas medições devem ser realizadas a cada quatro horas.
Se as taxas estiverem elevadas — duas glicemias maiores do que 250 mg/dl, ou testes de cetonúria positivos —, ou em caso de quadros infecciosos e febris, procure atendimento médico imediatamente.
Mantenha atenção redobrada em caso de doenças
Na ocorrência de uma simples gripe, ou de infecções, é importante manter atenção a qualquer alteração que ocorra no curso de uma doença, pois essa é uma condição que pode precipitar a cetoacidose em portadores de diabetes.
Assim, no curso de processos virais e infecciosos, realize a mediação da temperatura frequentemente (de preferência, a cada quatro horas) e, em caso de febre, procure beber 1 copo de água cada uma ou duas horas, para manter a hidratação alta.
Prepare-se para agir em caso de sintomas suspeitos
É fundamental que toda pessoa diabética e seus cuidadores saibam reconhecer os sintomas de cetoacidose. Identificar precocemente os sinais possibilita uma ação rápida em caso de suspeita.
É importante procurar atendimento de emergência na presença de qualquer um dos sintomas, pois a cetoacidose pode se desenvolver rapidamente e levar a um quadro grave e até mesmo irreversível.
Embora a mortalidade por cetoacidose diabética não seja muito alta, é importante ter em mente que essa é uma consequência possível em quem enfrenta essa complicação.
Por isso, é importante saber como prevenir a ocorrência dessa situação, mas também é preciso aprender a reconhecer os sintomas para buscar ajuda médica tão logo identifique algum indício. O autocuidado é essencial na manutenção da saúde.
Gostou das dicas? Entre em contato conosco e conheça como podemos ajudá-lo a manter o diabetes sob controle!