Escrito por Fred Prado do @vidadediabetico
Descobrir ter diabetes é começar um processo de mudança. Um profundo processo de conhecimento sobre a doença e um processo ainda maior de autoconhecimento. Todos têm medo de mudança. Até uma tartaruga, que quando se sente ameaçada encolhe a cabeça para o lado de dentro. O medo é, portanto, um mecanismo natural que nos faz sobreviver. É o que nos ajuda a pensar sobre algo novo ou uma nova situação. Ter medo não é ruim, pois quem não tem medo se sente satisfeito, tranquilo e distraído. O medo nos ajuda a perceber a nossa vulnerabilidade.
Em seu contraponto está a Coragem, que não é ausência de medo, mas sim o enfrentamento dele. Ou seja, o medo ainda está lá, mas é superado pela atitude positiva da coragem. Quando o medo ganha força ele se transforma em pânico e em falta de ação. Em acomodação. Em ficar parado na zona de conforto. E uma coisa que todo diabético deve ter em mente é que deve andar longe da zona de conforto, porque lá nada cresce. Seu terreno é absolutamente infértil. Nele nada se planta, nada evolui. É a sensação de estar “enxugando gelo”. Já sentiu isso?
Em verdade percebo que uma pessoa só aceita a mudança, de fato, quando percebe que será beneficiada no processo. Daí a minha conclusão sobre a importância de enxergarmos o diabetes como um estilo de vida saudável, tirando o peso dos nossos julgamentos. Trata-se de um fato em sua história sob o qual nada se pode fazer para mudar. Mas a forma de enxergar este fato, isto sim é possível mudar. E foi isso que eu fiz.
Mario Sérgio Cortella – um grande filósofo brasileiro que admiro muito – sempre traz belíssimas reflexões ilustradas em histórias antigas. E é uma dessas que me fez escrever esta parte do livro. Mário questiona: “De onde vem a palavra oportunidade?”. E continua: “Vem do nome de um vento. Os romanos tinham o hábito na Antiguidade de dar nome aos ventos. E um vento que eles apreciavam imensamente, que levava o navio em direção ao porto, era chamado de “ob portus”, o vento oportuno. O que é oportunidade? É quando você pega o vento favorável, aquele que o leva para o porto. O vento inoportuno é o que o tira da direção do porto. O que é porto? O porto – assim como uma porta – é segurança, é entrada e saída, é aquilo que o impede de ficar estanque na coisa mais perigosa que existe, que é ser prisioneiro do mesmo.”
Desta reflexão podemos extrair lições para a vida com diabetes. Será que o diabetes não é uma baita oportunidade para se conhecer mais e melhor? Vejo tantas pessoas que na correria do dia a dia não despertaram para o cuidado consigo mesmas. Com a saúde – tanto física, quanto mental e espiritual – com o autoconhecimento (a ideia socrática do conhece a ti mesmo), de encontrar o propósito de vida e de fazer aquilo que verdadeiramente ama, de acordo com suas habilidades. É uma valorização do mundo externo em detrimento do interno, sem perceber que o mundo externo é reflexo do mundo interno.
O bom navegador não espera pelo vento oportuno, ele vai atrás. Torço para que você tenha coragem de se aceitar com diabetes, de enfrentar os seus medos e superar a si mesmo, e que você perceba que o diabetes é também uma grande oportunidade que a vida está lhe dando para você buscar se conhecer e melhorar a cada dia.