Ter diabetes, é bom ou ruim?
Escrito por Fred Prado do @vidadediabetico
Eu gosto muito de parábolas. Acho que é a forma mais encantadora para transmitir um conhecimento sem precisar explicar o significado diretamente. Uma parábola dificilmente é esquecida, porque nos identificamos com a história. Carregamos com a gente e quando nos deparamos com situações similares, lembramo-nos dela. A seguir, divido com você uma das parábolas que mais gosto, que fala de um velho sábio e o poder do não julgamento.
“Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um belíssimo cavalo branco. Reis ofereciam quantias fabulosas pelo garanhão, mas o homem dizia:
– Este animal não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?
O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo. Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira se reuniu, e disseram:
– Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!
O velho disse:
– Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?
As pessoas riram do velho. Elas sempre pensaram que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o garanhão voltou. Não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso: ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente, as pessoas se reuniram e disseram:
– Velho, você estava certo! Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma benção.
O velho disse:
– Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta. Quem sabe se é uma benção ou não? Este é apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença, como pode julgar todo o livro?
Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente achavam que o velho estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo. O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, o filho caiu de um cavalo e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram:
– Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e ele era o arrimo da sua velhice. Agora você está mais pobre do que nunca.
O velho disse:
– Vocês estão obcecados por julgamento. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. A vida vem em fragmentos, mais que isso nunca é dado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois se recuperava das fraturas. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. Então, elas vieram até o velho e disseram:
– Você tinha razão, velho – aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. E nossos filhos se foram para sempre.
O velho disse:
– Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça. Não julguem, porque dessa maneira retardarão sua união com a Divindade. Vocês ficarão obcecados com fragmentos, pularão para as conclusões a partir de coisas pequenas.” (Fim)
Esta parábola traz grandes lições que podemos conectar com a vida com diabetes. Você, eu ou algum parente temos diabetes. Isto é simplesmente um fato que aconteceu em nossas vidas. Não há o que fazer com o fato, pois não temos como mudá-lo, senão dentro de nós mesmos, significando-o e ressignificando-o. O nosso cérebro é fantástico em criar julgamentos a todo instante. É da nossa natureza. No entanto, quanto mais percebemos que estamos julgando determinada pessoa ou situação, mais temos a chance de controlar as nossas ações e pensamentos como consequência.
Isto porque quando julgamos deixamos de crescer. O julgamento significa um estado mental estagnado. E a mente deseja julgar, porque estar em um processo é sempre arriscado e desconfortável.
Por exemplo: Ter diabetes é ruim? É bom? Aprendemos, com esta parábola, que não devemos julgar, mas simplesmente dizer: eu estou com diabetes. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção. Ter diabetes é um fragmento da sua história. Pode ser que mais para frente este fato se revele uma bênção, pois lhe despertou para ter um estilo de vida de hábitos muito mais saudáveis, como se alimentar melhor, fazer atividade física, se afastar de vícios, buscar inteligência emocional e ter disciplina. Então, o grande lance talvez seja julgar o mínimo possível os fatos e continuar dando o nosso melhor independente da situação que se apresentar em nossas vidas, com a sabedoria de deixar que o tempo revele as coisas boas e ruins das nossas vidas.